A COVID-19 tem exercido um impacto devastador, e as comunidades negras em todo o mundo têm sido as mais afetadas pela pandemia. Mesmo que a extensão total do seu impacto ainda esteja para ser determinada, essas comunidades estão desproporcionalmente propensas a contraírem e perecerem em função da COVID-19, comparando-se com o restante da população. Tecemos considerações a respeito do impacto da pandemia de COVID-19 no Brasil e nos Estados Unidos como ponto de partida para futuros estudos sobre populações negras em todo o mundo.
O Brasil é o maior e mais populoso país da América do Sul, com uma população de aproximadamente 210 milhões. A população negra constitui a maioria dos habitantes do país, representando 51,1% da população total[1]. Por outro lado, os Estados Unidos possuem uma população total de 328,2 milhões, sendo que a parcela negra representa apenas 12,1%. Uma comparação entre esses países pode, inicialmente, parecer incomum, especialmente porque historicamente esses países foram retratados como modelos contrastantes de raça e racismo. Por exemplo, um sistema de classificação racial e as leis de Jim Crow nos EUA, muitas vezes, foram justapostas ao contexto de mistura de raças, e as manifestações veladas e sofisticadas do racismo no Brasil. No entanto, o impacto contínuo da pandemia de COVID-19 no Brasil e nos EUA sugere que, embora existam diferenças, as comunidades negras em ambos países apresentam condições sociais semelhantes, tornando-as muito mais vulneráveis ao vírus do que suas congêneres nacionais.